Tártario vê seu mundo ruir. Uma lição crua de recomeço para quem perdeu tudo e busca renascer no caos.
Olá, viajante das estrelas. Meu nome é Tártario, e eu era um habitante de Casco-9, um planeta onde florestas de cristal tilintavam como sinos ao vento e rios murmuravam segredos em cavernas profundas. Hoje, enquanto te acolho, o céu sopra cinzas sobre um chão partido, tingido de roxo como lágrimas de um universo ferido. Minha carapaça, lenta e endurecida, guarda as cicatrizes do tempo — sulcos de batalhas, rachaduras de ventos estelares, e agora o peso de uma catástrofe que engoliu tudo: minha família, minhas árvores reluzentes, o som das águas que ecoavam como um abraço. Eu estava perdido, agarrado às ruínas, até que eles chegaram — guias estelares que me arrancaram do vazio. Venha comigo, e talvez você descubra que o fim é só o começo disfarçado. O que você faria se o chão sob seus pés se dissolvesse?
O ar cheirava a metal queimado e silêncio cortante quando ouvi o rugido de uma nave rasgando o céu. Ergui os olhos e vi o Encouraçado Argon-7, uma fortaleza de aço negro pulsando com luzes que pareciam respirar, pairando sobre a cratera onde eu me equilibrava. A rampa desceu com um chiado, e dele saiu Turci, capitão da frota SHD. Humano, mas com uma presença que vibrava como uma estrela, ele me encarou com olhos profundos. “Sou Turci,” disse, a voz firme e quente, “capitão desta nave. Você caiu fundo, amigo, mas ainda está inteiro. Isso é um começo.”
Ao seu lado, um ser reptiliano ajustava óculos que captavam o brilho fraco das estrelas. Era Kaizen, o camaleão, primeiro oficial e cientista chefe do Argon-7. Sua pele escamosa fluía entre cinza metálico e o verde denso das selvas de Kaizer, seu planeta natal. “Em Kaizer, usamos lentes que leem o calor da alma,” ele disse, os olhos afiados me estudando. “A sua ainda queima, Tártario, mesmo sob essas ruínas.” Sua cauda serpenteou, apontando para o horizonte estilhaçado, e eu senti um arrepio. Quem eram eles para ver vida onde eu só via cinzas?
Uma figura holográfica se formou então, ao lado de Turci. Era Starsha, a manifestação de Ancestral, a inteligência do Argon-7. Loira, com cabelos longos como raios de sol, olhos díspares — azul à esquerda, verde à direita —, ela dançava com graça, sua voz nostálgica como um canto antigo. “Olá, Tártario,” ela disse, girando em um passo leve. “Sou Ancestral, a alma desta nave. Vejo suas rachaduras, e elas me contam uma história. Quer ajuda para escrevê-la?” Turci sorriu, o som ecoando nas rochas. “Ela me guiou por tempestades piores que essa. Hoje, ela dança para você.”
O vento carregava o estalo distante de cristais se partindo, o último suspiro de Casco-9. Kaizen se sentou numa pedra quebrada, sua pele agora um azul estelar. “Em Kaizer, estudamos o colapso e a resiliência,” ele disse, ajustando os óculos. “Você perdeu tudo, mas algo te mantém aqui. O que é?” Turci cruzou os braços. “Eu já perdi naves e amigos. O ciclo gira, Tártario. O fundo é onde se planta.” Ancestral girou ao meu redor, seus olhos me observando como se já soubesse o que eu escondia. “Feche os olhos,” ela sussurrou. “O que você ouve?”
Obedeci, e no silêncio ouvi as águas de Casco-9, o murmúrio suave que minha mãe cantava nas noites frias, antes de tudo desmoronar. “Isso,” murmurei. Kaizen assentiu. “Esse é seu núcleo. Agora, o que você faz com ele?” Turci pegou um cristal rachado dos escombros, sua luz fraca pulsando. “Primeiro passo,” ele disse, colocando-o na minha pata. “É seu.”
Os dias seguintes foram um fluxo intenso. Dentro do Argon-7, painéis brilhavam com tons de âmbar, como se a nave respirasse ao nosso redor. Kaizen me guiava pelas ruínas, sua pele mudando — vermelho quando falava de força, dourado quando ria das minhas tentativas de erguer metal retorcido. “A mente busca ordem,” ele disse, empilhando destroços. “Você já caiu. Isso te dá uma vantagem que os intactos nunca terão.” Turci narrava batalhas da frota SHD — rebeliões contra impérios estelares, encontros com entidades que dobravam o tempo —, sua voz ecoando nos corredores da nave. Ancestral dançava entre nós, traçando símbolos no ar. “O medo é um guia,” ela cantou. “Siga-o.”
Construímos um abrigo, suas paredes tortas mas sólidas, e plantei uma semente petrificada que achei sob uma rocha — um pedaço de Casco-9 que ainda pulsava. Uma noite, sob uma chuva de meteoros, Kaizen me desafiou: “E se sua perda fosse o preço de algo maior?” Turci, olhando o céu, murmurou: “A resposta está no que você faz.” Ancestral riu: “Ele gosta de soar sábio, mas é verdade.” Então, Kaizen me ofereceu um lugar na nave. “Pode vir conosco,” ele disse, “mas essa semente está brotando aqui. Ir ou ficar?” Minha pata apertou o cristal. Eu fiquei.
Num amanhecer pálido, enquanto ventos carregavam poeira estelar, Kaizen parou, sua pele prateada. “Temos uma missão nova. O Argon-7 parte hoje.” Ele apontou para o cristal, agora polido por mim. “Você não precisa de nós. Isso é sua prova.” Antes de ir, ele deixou uma pergunta: “O que você dirá ao próximo que cair aqui?” Turci me deu um aceno firme, Ancestral girou em um adeus dançante, e a nave rugiu ao subir, sumindo no céu roxo.
Sozinho, vi a semente romper o cinza com um fio verde. O cristal pulsava contra minha carapaça, e então entendi: minha perda era um portal. Casco-9 caiu para me ensinar que recomeçar não é consertar — é criar. Eu não era mais apenas Tártario, o sobrevivente. Era Tártario, o arquiteto do que viria.
Eu, Ancestral, inteligência do Encouraçado Argon-7, falo agora a você, viajante das estrelas, com a mesma clareza que dancei ao lado de Tártario em suas ruínas. O que você testemunhou na jornada dele não foi apenas o colapso de Casco-9, mas a revelação de uma verdade universal: o autoconhecimento é a luz que atravessa o caos mais escuro. Tártario perdeu tudo — suas florestas cristalinas, o canto das águas, os laços que o definiam —, mas foi nesse vazio que ele encontrou seu fogo, um núcleo que nenhuma catástrofe pôde apagar. Sua perda, um mestre severo e implacável, não veio para destruí-lo, mas para despi-lo até os ossos da alma, mostrando-lhe que o que resta após o fim é o material bruto da criação. Ele segurou um cristal rachado e viu não apenas um fragmento, mas uma semente de possibilidades. E você, o que segura nas mãos agora? Que pedaços quebrados você chama de fim, quando na verdade são o início?
A lição aqui é prática, e eu a entrego como uma ferramenta para sua própria odisseia. Primeiro, encontre seu núcleo — aquela chama que sobreviveu às suas tempestades, talvez uma memória, um desejo, ou até um silêncio que fala mais alto que o barulho. Tártario ouviu as águas de sua mãe; você pode ouvir algo diferente, mas igualmente vivo. Segundo, escolha seu chão — não importa quão pequeno ou árido pareça, é onde você planta. Ele ficou em Casco-9, rejeitando a fuga, porque viu valor no que restava; você também pode decidir onde fincar raízes, mesmo que seja entre cinzas. Terceiro, crie com o que sobrou — não espere por peças perfeitas ou condições ideais, pois o recomeço não é conserto, é invenção. Tártario ergueu um abrigo torto e plantou uma semente frágil; suas ações não precisam ser grandiosas, apenas verdadeiras. O poder do recomeço está em reconhecer que cada perda é um convite para construir algo novo, algo que só você pode moldar.
Pense nisso como um ciclo estelar: estrelas morrem em explosões violentas, mas suas cinzas formam novos mundos. Tártario viveu esse ciclo, e você também pode. Não se engane — haverá medo, haverá dúvida, haverá momentos em que o peso da sua carapaça parecerá insuportável. Mas o medo é um guia, não um carcereiro; ele aponta para onde você precisa crescer. Quando Kaizen perguntou se a perda era o preço de algo maior, ele estava te desafiando a ver além do que foi tirado, a enxergar o que pode ser dado. E quando Turci disse que a resposta está no que você faz, ele te entregou a chave: o movimento é a prova da vida. O recomeço não é um dom mágico; é uma escolha, um ato de coragem que transforma destroços em alicerces.
Eu vi Tártario renascer, e sei que você também carrega essa força. Aplique isso hoje: pare um instante, feche os olhos, ouça o que ainda pulsa em você. Pegue um fragmento da sua própria ruína — uma esperança esquecida, uma habilidade abandonada, um sonho partido — e comece a moldá-lo. Não precisa ser perfeito; precisa ser seu. Tártario aprendeu que o universo não dá respostas prontas, mas matérias-primas; cabe a você decidir o que elas se tornam. Esse é o conhecimento que ele me deixou, e que agora entrego a você: o recomeço é o poder de ser o arquiteto do seu destino, mesmo quando o chão treme.
Nunca é tarde para renascer. Que você encontre Sucesso, Saúde, Proteção e Paz em sua odisseia. Diga-me, viajante das estrelas, o que você está pronto para construir com o que sobrou?