Mergulhe em uma crônica poética sobre autoconhecimento e conexão humana, entrelaçando nostalgia dos anos 60 e insights de liderança e espiritualidade
O ar estava quente e carregado de um cheiro doce naquela tarde, como se o vento tivesse roubado o perfume de algum bolo recém-saído do forno e o espalhasse pelas ruas tortuosas do bairro. Eu caminhava devagar, os tênis gastos roçando o asfalto irregular, e o sol de fim de tarde jogava sombras longas que dançavam à minha frente, como marionetes de um teatro que eu ainda não entendia. Havia algo no silêncio entre os sons – o latido distante de um cachorro, o ronco abafado de um fusca azul subindo a ladeira, o chiado de uma vitrola vindo de uma janela aberta – que me fazia sentir vivo, mas também perdido, como se eu fosse ao mesmo tempo o protagonista e um figurante da minha própria história. Foi aí que ouvi, quase por acidente, um sussurro vindo de dentro: “Para onde você está indo, afinal?” Não era uma voz alta, mas tinha o peso de quem já viu muitas luas cheias e sabe que cada uma deixa uma marca.
Eu parei, as mãos nos bolsos, o coração batendo um ritmo que não explicava. À minha volta, o mundo seguia seu curso: uma mulher de cabelos grisalhos varria a calçada com uma vassoura de palha, um menino corria atrás de uma bola de capotão que quicava como se tivesse vida própria, e o céu, ah, o céu, parecia uma tela onde alguém havia derramado tinta laranja e roxa sem pedir permissão. Mas ali, naquele instante, eu era só eu – ou pelo menos tentava ser. Havia dias em que eu sentia o peso de carregar tantas versões de mim mesmo: o garoto que sonhava com naves espaciais e discos voadores nos anos 80, o jovem que anotava frases soltas em cadernos gastos nos 90, o homem que agora tentava decifrar o que sobrou de tudo isso. E, de repente, como se o universo conspirasse para me dar uma resposta, uma música escapou daquela janela entreaberta – um riff de guitarra que me levou direto para uma tarde de 1966, quando o mundo parecia mais simples e, ao mesmo tempo, infinitamente mais misterioso.
Sentei-me no meio-fio, as pernas dobradas, os olhos fixos num horizonte que eu não podia tocar. Lembrei-me de uma vez, anos atrás, em que alguém me disse que a vida é como um rio: você pode nadar contra a corrente, ficar parado na margem ou simplesmente se deixar levar. Naquele dia, eu escolhi a margem, mas não por medo – por curiosidade. Queria ver o que o rio trazia, quais pedaços de mim ele carregava nas suas águas turvas. E veio uma enxurrada: memórias de conversas ao pé do ouvido em salas de reuniões abafadas, onde o cheiro de café frio se misturava ao som de canetas riscando papéis; imagens de noites em que eu lia livros de capas amareladas, tentando entender o que Freud, Jung ou algum filósofo barbudo queria me ensinar; ecos de histórias que minha avó contava sobre os antigos, sobre os ciclos da lua e os sonhos que falam mais alto que as palavras.
Eu me vi, então, como um tecelão desajeitado, tentando costurar fios que não pareciam combinar. Havia o menino que cresceu ouvindo fitas cassete e sonhando com um futuro de luzes piscantes e máquinas falantes – um futuro que, de certa forma, chegou, mas não como eu imaginava. Havia o homem que aprendeu, em salas envidraçadas e conversas tensas, que liderar não é só apontar o caminho, mas também ouvir o silêncio dos outros, sentir o pulso de um grupo e guiá-lo como quem sopra brasas para manter a chama acesa. E havia algo mais, algo que não cabia em organogramas ou planilhas: uma inquietude que me fazia perguntar, vez após vez, o que realmente importava. Não era sobre metas ou prazos – era sobre o que ficava quando tudo isso passava.
O menino com a bola parou de correr e me olhou, como se eu fosse uma peça fora do lugar naquele quebra-cabeça de fim de tarde. Sorri para ele, e ele devolveu o sorriso antes de desaparecer na esquina. Levantei-me, o corpo um pouco mais leve, e comecei a caminhar novamente, sem destino certo. Pensei nas tantas vezes em que me sentei diante de um espelho – não o de vidro, mas o da mente – e tentei decifrar o que via. Às vezes, era um estranho; outras, um amigo antigo. Havia dias em que eu me perdia em loops de pensamentos, como aqueles discos riscados que pulam na mesma nota, e outros em que eu sentia o mundo inteiro caber dentro de mim, como se eu fosse um mapa vivo, traçado por rios, montanhas e desertos que eu mesmo criava.
Enquanto o sol mergulhava no horizonte, pintando o céu com tons que pareciam saídos de um filme de ficção científica dos anos 80 – daqueles com sintetizadores e promessas de um amanhã brilhante –, eu me peguei rindo sozinho. Rindo da ironia de buscar respostas em um mundo que só me dava perguntas. Rindo da dança entre o que eu fui, o que sou e o que ainda posso ser. Pensei nos tantos que cruzaram meu caminho: os gestores de terno e gravata que escondiam sonhos de criança sob pilhas de relatórios; os amigos que me ensinaram, com um violão desafinado ou uma conversa rouca, que a vida é mais sobre sentir do que entender; os mestres invisíveis que encontrei em livros, em silêncios, em olhares trocados sem palavras.
E então, como se o próprio tempo me desse um tapinha nas costas, veio a lembrança de uma frase que li em algum lugar – talvez num gibi dos anos 90 ou num tratado empoeirado: “Somos feitos de histórias, e cada uma delas é um fio que nos liga ao outro.” Naquele momento, eu soube que não estava sozinho. Não importava se eu caminhava por ruas de paralelepípedos ou por corredores de vidro e aço; se eu ouvia o canto dos pássaros ou o zumbido de servidores em uma sala climatizada; se eu segurava uma caneta ou digitava em teclas que brilhavam no escuro. Eu era parte de algo maior, uma teia que se estendia para trás, até os tambores dos antigos, e para frente, até os sonhos de um futuro que ainda não tem nome.
Quando cheguei em casa, o céu já era um manto de estrelas, e o ar trazia aquele frescor que só a noite sabe oferecer. Sentei-me à janela, um copo d’água na mão, e deixei os pensamentos se assentarem como poeira após uma ventania. Não havia uma grande revelação, nenhum trovão ou luz divina. Mas havia uma certeza quieta, quase tímida, que crescia em mim como uma planta que rompe o solo: a de que cada passo, cada dúvida, cada erro e cada pequena vitória eram pedaços de um mosaico que eu ainda estava montando. E que, talvez, o segredo não fosse encontrar todas as respostas, mas aprender a dançar com as perguntas.
Eu, Alessandro Turci, deixo aqui este pedaço de mim – um grito, um sussurro, um riso abafado que ecoa entre as décadas que me moldaram e os dias que ainda vou viver. Olhar para dentro é um ato de coragem, mas também de generosidade: é crescer não só para si, mas para o mundo que nos cerca, nas esferas que tocamos, sejam elas feitas de laços pessoais, desafios profissionais ou sonhos compartilhados. Se esta história te tocou, que tal me oferecer um café virtual, como quem acende uma luz para outra alma? Ajuda meu blog a pulsar, num ciclo de dar e receber que faz o universo girar. E, se sentir o chamado, espalhe estas palavras pelas redes, como quem sopra um dente-de-leão ao vento – que elas encontrem outros corações inquietos.
Que o eco desta narrativa fique em você como uma brisa que não explica, mas faz sentir. E que você encontre sucesso, saúde, proteção e paz na sua própria história, tecida com os fios que só você sabe trançar.
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