André Julião | Agência FAPESP – Os Arranjos Produtivos Locais (APLs) existem para promover, de forma induzida e coordenada, o desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços locais, com foco nos pequenos e médios negócios. No Estado de São Paulo, cerca de 30 mil empresas estão reunidas nesses arranjos, que reúnem ainda instituições de ensino, capacitação e pesquisa tecnológica, além de organismos de fomento.
O desafio atual para o poder público e membros dos APLs, que empregam cerca de 500 mil pessoas, é organizar, qualificar e desenvolver esses aglomerados, conforme constataram participantes de um evento do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação realizado em 25 de setembro.
Para André Luis Squarize Chagas, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a análise dos Arranjos Produtivos Locais parte dos conceitos de economias de aglomeração, a partir de evidências de que inovação, crescimento econômico e ganho de produtividade ocorrem em regiões densas, tanto em pessoas como em complexidades econômicas. Isso se reflete em crescimento econômico.
“Daí surge a constatação desses arranjos produtivos, que apareciam de maneira espontânea, como no Vale do Silício [nos Estados Unidos] e os Distritos Industriais da Itália. Aliado a isso, estava a constatação de que esses aglomerados de empresas de base tecnológica traziam progresso para a região. Daí a origem do termo APL”, explicou o pesquisador.
Um exemplo bem-sucedido no Brasil é o Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (PIT), uma iniciativa da prefeitura do município e do Governo do Estado de São Paulo, que aproveitaram oportunidades, como a existência do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e da Embraer na cidade, para induzir a inovação e a economia num espaço físico onde todos poderiam interagir e gerar novos negócios e aplicações para a indústria.
“Hoje são mais de 400 instituições vinculadas, mais de 30 universidades conectadas a nós, o que cria oportunidade de geração de dados e conhecimento empírico sobre inovação”, contou Luiz Fernando Carvalho, coordenador do Escritório de Projetos do PIT.
Carvalho explicou ainda que, atualmente, o parque faz a gestão de três arranjos produtivos: aeroespacial, tecnologia da informação e comunicação e, mais recentemente, agropecuária. No futuro, serão criados ainda o de saúde e o de mobilidade do futuro.
“O ITA e a Embraer ajudaram que começasse assim. Mas, ao longo desses 17 anos, a gestão dos arranjos produtivos locais foi amadurecendo”, disse. Carvalho destacou o papel de agências de fomento federais e da FAPESP para que o arranjo siga dando bons resultados. Entre os destaques, a grande quantidade de startups que receberam apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) nos últimos anos.
Outro destaque, mais recente, é o Centro de Pesquisa em Engenharia para a Mobilidade Aérea do Futuro (CPE-MAF), constituído por ITA, Embraer e FAPESP (leia mais em: agencia.fapesp.br/40900).
Governança
Os especialistas explicaram ainda que o que diferencia um APL de um mero conjunto de empresas é a governança. Para reforçar esse tipo de arranjo, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) trabalha no desenvolvimento dos APLs do Estado.
Para Paulo Rocha, especialista em Competitividade e Tecnologia da instituição, um dos problemas para o estabelecimento dos APLs é a “cultura pouco associativa e cooperativa do empresariado brasileiro”, que atrapalha a obtenção de benefícios em conjunto. Outro desafio, segundo ele, é a falta de uma legislação que incentive a cooperação. Por conta disso, a Fiesp criou uma metodologia para a criação de APLs. Um dos princípios é que o arranjo esteja estabelecido dentro de uma governança local, formada por líderes empresariais, a prefeitura do município, além de universidades e institutos de pesquisa.
“A partir disso, as coisas vão acontecendo, com o nascimento de níveis de confiança dentro do APL. As empresas passam a confiar umas nas outras e nas instituições. Com isso, pode-se fortalecer a cooperação. Para as micro e pequenas empresas, que são a maioria nesses arranjos, isso é muito importante para o adensamento da cadeia”, explanou.
Carvalho citou alguns exemplos de como isso aconteceu no PIT de São José dos Campos. Em um deles, uma grande empresa precisava ampliar sua base de fornecedores, que necessitavam ter certo nível de qualificação que as pequenas empresas parte do PIT não tinham.
O PIT então coordenou uma certificação em grupo, com uma parte do investimento público, e 30 empresas se qualificaram como fornecedores. Outro exemplo foi uma oportunidade de construir um laboratório para realizar testes para a indústria automotiva. Uma vez que as empresas pagavam para fazer os estudos fora do país, mas também não consideravam viável financiar sozinhas estruturas desse tipo no país, o PIT uniu investimento privado e público para construir os laboratórios e cobrar por esses serviços. Hoje, as empresas do PIT demandam e prestam serviços nesses laboratórios, o que abriu ainda possibilidades de novas cooperações.
O evento na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) foi mediado por Fernando Menezes, diretor administrativo da FAPESP. Também esteve presente Natacha Souza Jones, diretora-executiva do ILP.
A íntegra do debate está disponível em: youtu.be/vpSfe55gI2U.
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