Equipe brasileira do Telescópio Gigante Magalhães investe em divulgação científica

José Tadeu Arantes  |  Agência FAPESP – Com um vídeo de oito minutos sobre a formação das estrelas, estreou no mês passado a segunda temporada da série Fascínio do Universo. Entre os assuntos que estão por vir destacam-se: matéria escura, formação das galáxias, aglomerados de galáxias e estruturas em grande escala do Universo. Os programas são todos feitos no Brasil, pela TV Universitária da Universidade do Vale do Paraíba (TV Univap). Apesar de falados em português, possuem legendas em português e inglês, para maior acessibilidade.

A série é resultado de uma parceria entre o escritório brasileiro do Giant Magellan Telescope (GMT), o Telescópio Gigante Magalhães, em construção no Chile; o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP); e a FAPESP. “Seu objetivo é alcançar as gerações mais jovens e entusiasmá-las sobre a astronomia, abordando temas para quais o GMT será capaz de fornecer resultados jamais alcançados até hoje”, conta Daiana Ribeiro Bortoletto, gerente de programa do Projeto GMT-FAPESP.

Com uma superfície coletora de luz de 25,4 metros de diâmetro e 368 metros quadrados de área, o GMT, que está sendo instalado no pico Las Campanas, no extremo sul do Deserto de Atacama, deverá ser até 200 vezes mais poderoso do que os melhores telescópios atuais, possibilitando prospectar com maior riqueza de detalhes o universo observável. Para isso, ele contará com sete dos maiores e mais perfeitos espelhos já fabricados. E com um sistema de óptica adaptativa capaz de remover o efeito da turbulência atmosférica da Terra.

“A astronomia sempre dá saltos quando incorpora novas tecnologias. A transição da observação a olho nu para a observação com telescópios ampliou enormemente nossa visão do universo. Mais tarde, a utilização de espectrógrafos revelou a composição química dos corpos celestes e possibilitou a descoberta das ainda misteriosas matéria e energia escuras. A nova geração de telescópios terrestres gigantes, que inclui o GMT, configura um novo salto tecnológico. Entre os avanços esperados, posso destacar uma melhor compreensão de como as galáxias nascem e evoluem, de como a nossa Via Láctea foi formada e, talvez, a descoberta mais impactante de todas: sinais da existência de vida fora do Sistema Solar”, afirma Laerte Sodré Junior, pesquisador responsável e coordenador do Projeto GMT-FAPESP.

Com um aporte de US$ 50 milhões da FAPESP, esse projeto especial, iniciado em 1º de dezembro de 2014 e com vigência prevista até 30 de novembro de 2024, foi fundamental para que o Brasil pudesse participar do consórcio internacional que constitui a Giant Magellan Telescope Organization Corporation (GMTO Corporation). Além do Brasil, esse consórcio sediado em Pasadena, nos Estados Unidos, é formado por oito instituições norte-americanas, duas australianas, uma coreana, uma israelense e pelo governo do Chile. Além de possibilitar aos astrônomos sediados em instituições paulistas a participação na vanguarda da pesquisa em astronomia, o projeto também abriu portas paras equipes e empresas brasileiras que estão atuando no desenvolvimento dos instrumentos do telescópio.

A participação em sistemas de alta complexidade e precisão constitui um ganho estratégico para engenharia brasileira. As áreas de atuação incluem vários ramos da engenharia: sistemas, óptica, optomecânica, mecânica, mecatrônica, eletrônica, elétrica, software, hardware, controle e automação. Além de astronomia, física e matemática. A formação de uma equipe multidisciplinar, atualmente com mais de 40 profissionais, entre professores, técnicos, bolsistas e consultores, de várias instituições do país, deu origem ao Escritório Brasileiro do GMT (GMT Brazil Office – GMTBrO).

De início coordenado pelo professor João Evangelista Steiner, o GMTBrO passou para a coordenação de Laerte Sodré em 2020, após o falecimento de Steiner.

“Como o projeto GMT-FAPESP se encerrará em 2024, mas a construção e o desenvolvimento do telescópio deverão se estender até 2035, o GMTBrO decidiu criar uma instituição, com identidade jurídica, para manter coesa essa equipe multidisciplinar altamente capacitada e treinada, bem como viabilizar financeiramente a continuidade da participação brasileira no GMT. Assim nasceu o Instituto Steiner”, informa o engenheiro José Octavio Armani Paschoal, presidente do instituto.

“Além dos objetivos científicos, também nos propusemos, desde o início do projeto, a formar um grupo de instrumentação astronômica para prover serviços especializados de astronomia, computação e engenharia, incluindo hardware, sob medida, para instrumentos que estão em construção para o GMT. Ao reunir possibilidades de participação em uma gama diversificada de instrumentos, atraímos jovens brilhantes das mais diferentes áreas e garantimos a formação de pessoal em setores estratégicos e de vanguarda”, acrescenta Claudia Mendes de Oliveira, professora titular da USP que também coordena o projeto GMT-FAPESP.

Ao lado dos objetivos científicos e tecnológicos, a difusão do conhecimento e a atração de novos talentos para a atividade científica também é parte do escopo do projeto GMT-FAPESP, que será continuado pelo Instituto Steiner. É nesse veio que se inserem iniciativas como o programa Fascínio do Universo. A primeira temporada, com nove episódios de oito minutos, abordou temas como energia escura, lentes gravitacionais, busca por água no universo e origem dos átomos. Todos os programas continuam disponíveis no canal do projeto.

Em breve, estreará no mesmo canal uma nova série: Mirando as Estrelas. Composta por dez episódios, com duração estimada de quatro minutos cada, a série tratará da participação de cientistas brasileiros na construção de instrumentos astronômicos de vanguarda.

“Essa nova série possui uma temática inédita no Brasil. O objetivo não é somente mostrar como a comunidade científica brasileira está envolvida nos maiores projetos de telescópios do mundo e produz tecnologia de vanguarda, algo que já ocorre há décadas com pouca divulgação, mas também despertar a curiosidade dos jovens. Muitas pessoas não estão familiarizadas com a instrumentação necessária para analisar os dados sobre a luz coletada pelos telescópios”, comenta Amanda Kassis, jornalista do projeto GMT-FAPESP.

O GMT Brasil possui ainda um site, em português e inglês, contendo notícias sobre o telescópio, especificações técnicas sobre os instrumentos, uma seção de perguntas frequentes, uma seção de curiosidades voltada para o público não especializado e informações sobre eventos, palestras e oportunidades acadêmicas, disponibilizadas pelo projeto e seus parceiros. E perfis nas principais redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

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