Luana Menezes (*)
Diante do número alarmante de violência e feminicídio contra a mulher, precisamos refletir sobre as raízes que levam as mulheres a sofrer com tamanha violência.
Portanto, precisamos olhar para esse homem. Qual olhar ele tem sobre a mulher? O que o leva a agredi-la?
Percebemos nesses casos de violência, por parte do homem, o sentimento de posse; a dificuldade de aceitar a liberdade de escolha da mulher; a objetificação da mulher.
O homem nasceu com a tendência de machucar mulheres? É de sua natureza biológica tratá-la assim?
Evidentemente que não. Ele desenvolveu esse olhar para a mulher porque aprendeu que o seu papel de homem é mais importante que o da mulher; aprendeu que ela é inferior e, portanto, deve ser submissa a ele; aprendeu que ele é admirado por ter várias mulheres e ela deve ser difamada se estiver conhecendo pessoas; aprendeu que enquanto ela espera o príncipe encantado, ele deve se satisfazer sexualmente com a maior quantidade possível de mulheres porque ele é homem, portanto viril. Diante disso, não estamos, na verdade, falando sobre o que é ser homem. É porque a cultura do patriarcado colocou que homem deve ser macho. Então, estamos falando de uma masculinidade tóxica construída, que faz o homem adoecer, se sentindo dominador e controlador da mulher e, portando, acredita que pode agir como se fosse seu dono.
Por sua vez, as mulheres também estão inseridas nessa cultura e por diversas vezes naturalizam comportamentos de dominação e violência por parte do homem contra elas. Quantas mães tratam seus filhos homens, reproduzindo conceitos machistas, como "homem não chora", não deixando os meninos participarem dos cuidados da casa, aceitando também a traição, diferentemente da educação de meninas, que deve participar dos cuidados da casa, deve respeitar o namorado etc. Quantas namoradas e esposas, se cobram para manter a paixão acesa no relacionamento e cobram do homem o pagamento das contas? Assim, como aceitam suas ausências no cuidado com a casa e com os filhos e sua agressividade?
A responsabilidade por essa mudança também é de nós mulheres, mães, avós, tias, irmãs, profissionais etc.
Todas essas expectativas sobre o que é ser homem afetam não apenas de forma individual, mas também coletiva. Muitos dos comportamentos tidos como louváveis são agressivos e levam a casos de violência entre homens e de homens contra mulheres, de acordo com o Atlas da Violência 2020, 91% das vítimas de homicídio são homens. Além disso, a tentativa de se enquadrar ou de se manter no padrão traz inúmeros prejuízos físicos e emocionais ao homem, que pode se encontrar em constante estado de pressão, culpa e solidão.
O incentivo a não mostrar fragilidade é especialmente negativo. Muitas vezes iniciado na infância, pode levar ao bloqueio emocional, quando a pessoa não consegue expressar ou trabalhar suas emoções. Eu, como mãe de menino, passei a ficar muito mais atenta a essas questões, embora já fosse psicóloga infantil. Passei a vivenciar os reflexos da cultura machista a partir do enxoval e decoração do quarto do meu filho, vendo na maior parte das vezes por parte das lojas, sendo ofertado para meninos, objetos e cores que representam simbolicamente a força, a agressividade e racionalidade. Eu busquei também pela sensibilidade, que precisa ser preservada em todos nós seres humanos. Esse incômodo me fez ler mais sobre o machismo tóxico e, consequentemente, senti a necessidade de escrever o livro infanto-juvenil: "Eu só quero brincar", no qual abordo a importância da expressão dos nossos sentimentos e o cuidado que devemos ter com a repressão dos afetos, principalmente na tratativa e educação de meninos, pois são os que mais sofrem devido à essa cultura machista que é tóxica e os adoece.
Felizmente, existem muitos espaços de acolhimento e de cuidado, como é o caso da terapia, que ajudam o homem a compartilhar e demonstrar emoções positivamente; temos visto mais homens falando sobre a importância de nos desconstruir dos conceitos machistas e também vejo surgindo grupos para homens tratarem de suas masculinidades.
Todos nós, de todos os gêneros, precisamos refletir sobre os lugares que ocupamos e nos atentar à criação dos filhos e de novas gerações de modo a cuidarmos da saúde emocional e melhor convivência e respeito entre as pessoas.
Assim, preservar a sensibilidade do menino e a potência da mulher. Ambos são livres, merecem expressar seus sentimentos, merecem sonhar, amar e se relacionar se sentindo únicos e completos sozinhos.
(*) Luana Menezes – Psicóloga clínica, palestrante e autora do livro “Eu usó quero brincar” (Literare Books International). Instagram: @luanamenezespsi
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