Sigo conferindo todas as séries live-action de super-heróis lançadas nas matinês dos cinemas dos anos 40 que estão disponíveis no catálogo do Pluto TV. Depois da medíocre estreia do Batman nas telas em 1943, assisti o primeiro seriado do homem de aço.

Até que demorou para o kryptoniano, criado em 1938, ter sua primeira versão em carne e osso. Em 1940 ele já tinha um seriado radiofônico e ganhava também um desenho animado, produzido pelos Fleischer e Famous Studios, que se tornaria um clássico graças ao estilo da animação. Foi somente em 1948 que ele ganharia nas telas o rosto (e corpo também) de um ator real. Estreava o seriado Superman, com 15 episódios distribuídos pela Columbia Pictures.

Um trabalho para o Superman

Ao contrário do seriado do cruzado de capa, Superman começa bem fiel aos quadrinhos, com o primeiro episódio contando sua origem. Boa parte dele se passa em Krypton, com Jor-El tentando convencer os membros do governo a iniciar uma fuga em massa do planeta, que está condenado a destruição. Ao perceber que os negacionistas não vão dar o braço a torcer, ele envia o filho ainda bebê para a Terra. Chegando aqui o garoto é adotado por um casal de fazendeiros e se torna Clark Kent. De repente somos informados pelo narrador que os pais adotivos de Clark morreram (será que foi covid?) e ele vai para Metrópolis, conseguindo emprego no jornal Planeta Diário.

Spider Lady 1948

Também ao contrário de Batman, o seriado do Super não dispensou o elenco de apoio dos quadrinhos. Lois Lane, Jimmy Olsen e Perry White marcam presença. Apenas a vilã Spider Lady foi inventada para a produção. 

Apesar do começo promissor, os episódios vão seguir a regra costumeira desses seriados para os cinemas. Sempre terminam com um gancho para fazer o público voltar para conferir o próximo episódio. Na verdade essa regra ainda hoje é seguida por seriados modernos como Game of Thrones e Stranger Things e apenas de vez em quando é quebrada por obras-primas como Sopranos e The Wire.

Superman e seus amigos

Embora tenhamos uma Metrópolis, a maior parte da ação deve acontecer na parte rural da cidade. Isso também acontece no seriado do morcego que prefere encarar os vilões no campo do que nas vielas de Gotham City. Enfim, é a versão da pedreira da Toei dos caras. Ainda na questão do baixo orçamento, o seriado também ficou famoso pelas cenas de voo do Superman, que são feitas em animação. Embora tenha estranhado no inicio, não achei que a ideia funcione tão mal e evoca o desenho animado de sucesso no começo daquela década. É meio bizarro, mas interessante

Voo em desenho animado

Um problema maior do seriado é que faltam desafios dignos do personagem. Nos primeiros episódios ele impede o descarrilamento de um trem, faz resgate em um incêndio e em uma mina; mas, nos episódios seguintes, apenas enfrenta os capangas da vilã, como se fosse seu colega de Gotham City. Para não deixar as coisas fáceis demais, os vilões apelam para a kryptonita de vez em quando. Chama a atenção também pelas conveniências de roteiro que fazem as pessoas ligar para o Planeta Diário em vez da policia quando descobrem algo envolvendo os bandidos. Em um dos episódios finais, o próprio Super deixa o chefe Perry White sozinho em seu escritório com um dos criminosos capturados. Não podia acontecer outra coisa e o cara se liberta e parte para cima do velho. Parabéns azulão (o uniforme na real era cinza e marrom, que ficava melhor na fotografia preto e branco)

Clark Kent 1948

Kirk Alyn vive um Clark Kent mais próximo da versão do desenho animado dos anos 90 do que dos filmes estrelados por Christopher Reeve, que era mais desajeitado. Seu Superman não se destaca tanto pois apenas tem que sorrir quando leva tiros dos bandidos. Pior para ele que também não existe um clima de romance entre o Super e Lois Lane, que é o grande destaque da série.

Lois Lane anos 40

Noel Neill é a personificação da Lois do desenho dos Fleischer. Como no desenho animado, o roteiro da repórter é passar Kent para trás para conseguir a notícia, ser raptada pelos vilões e salva pelo Superman em seguida (não que tenha sido diferente com a Amy Adams que só não disputava noticia com Clark). Mesmo assim Noel é cheia de carisma e rouba a cena sempre. Tanto que ela retorna ao papel na segunda temporada da série televisiva Adventures of Superman nos anos 50, substituindo Phyllis Coates. Ela e Kirk Alyn ainda foram os pais de Lois em uma ponta no clássico Superman de Richard Donner. Noel ainda apareceu também no modorrento Superman Returns de Bryan Singer como a coroa moribunda casada com Lex Luthor.

Sorria

Superman não é uma das melhores produções estreladas pelo herói mas ainda assim me divertiu mais que a já citada série do Batman de 1943 por seguir mais a mitologia dos quadrinhos e pela simpatia dos protagonistas. Fez sucesso e teve uma continuação, Atom Man vs. Superman, com o mesmo elenco principal.

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