A maternidade merece uma reestruturação trabalhista, que traz vantagens para profissional e empresa
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal aprovou uma nova regra para a licença maternidade, que passa a contar a partir da alta hospitalar da mãe ou do bebê. Antes da regulamentação, a lei vigente previa que o tempo iniciava contagem a partir do afastamento da mulher do trabalho, que poderia ocorrer até 28 dias antes do parto. A mudança beneficia principalmente gestantes de risco e partos com complicações, que necessitam de mais tempo de internação.
De acordo com Brunna Duarte, head de Marketing e uma das fundadoras do Do It Girls Club, comunidade de networking e conteúdo voltada para empreendedoras e executivas, são pequenas alterações que auxiliam para que as mães tenham condições de cuidar de seus filhos com segurança e, em seguida, voltar ao trabalho e retomar suas carreiras. “Apesar dos avanços, as mães que decidem se manter no mercado de trabalho ainda passam por muitas dificuldades”, pontua.
O sistema como é moldado hoje, conforme explica Brunna, não está preparado para apoiar a maternidade, principalmente aquelas mulheres que acabam de voltar de licença. “Ela passou por um dos momentos mais sublimes e ao mesmo tempo mais delicados da sua vida, precisa deixar o bebê em casa, tem que fazer toda uma reconstrução para entender que agora é mãe e também profissional. Muitas vezes, as empresas não percebem isso e não olham para ela com a empatia que deveria acontecer”, comenta.
Essa empatia pode ser realizada de forma concreta ou mais subjetiva. No contexto prático, soluções como disponibilizar um espaço certo para a mãe lactante fazer a retirada do leite é algo simples e crucial, já que a mulher passa muito tempo no trabalho e precisa de um ambiente limpo e com maior privacidade para realizar o procedimento. Outro ponto é a flexibilidade de horários, que pode ser boa para a colaboradora e a empresa.
“Tem uma frase muito boa: ‘eu nunca estive tão cansada, mas eu nunca tive tanta garra’. Depois que vira mãe, a mulher se torna mais criativa, resiliente, tem mais foco, mais força, mais vontade de fazer dar certo e trabalhar melhor. Muitas vezes, ela só precisa de flexibilidade no trabalho para que possa entregar toda essa potência que adquiriu. Algumas empresas não conseguem olhar para a mãe dessa forma e acabam colocando-a na mesma caixinha de todos os outros funcionários. Se a vissem com um pouco mais de empatia, permitindo condições favoráveis - uma flexibilização de horário, um trabalho híbrido, flexibilidade para compensar horas gastas com o filho - certamente teriam melhores resultados”, acrescenta a especialista.
Reconstruir as relações de trabalho e deixá-las mais favoráveis para que uma mulher possa ser mãe e profissional de sucesso ao mesmo tempo, é um dos pilares para a sociedade rever a maneira como lida com a maternidade. Segundo Brunna, muitos debates estão acontecendo nesse sentido e mostram como a realização em diversos setores da vida de uma mulher a deixam mais feliz, fazendo dela uma mãe ainda melhor, assim como profissional com mais resultados positivos.
Nesse caminho, a rede de apoio é elemento essencial na vida dessas pessoas. Afinal, é preciso ter quem cuide da criança enquanto a mulher está realizando suas atividades. Em geral, há uma divisão com outros familiares, além de creches e pessoas contratadas para o serviço. Mas já existem empresas de ponta que incluem a creche dentro de suas fábricas e sedes, facilitando a tarefa.
“É preciso ainda alguém para dividir a carga mental. É muita coisa para pensar ao mesmo tempo. O esforço não está só em fazer, mas em pensar e organizar. Quando a gente vai percebendo que pode ter rede de apoio, isso nos dá maior possibilidade de olhar para as outras frentes da vida. Nós já entendemos o ditado que é preciso uma aldeia para cuidar de uma criança. Além disso, repensar o lugar do pai nesse cenário é essencial - afinal, também é papel do pai criar e não apenas ajudar. Com uma paternidade presente nesse contexto da família após a chegada de um filho, a mulher pode se dar a oportunidade de ser tudo aquilo que ela quiser além de mãe”, lembra Brunna.
Entre as importantes sugestões para começar uma gestação sem perder a vida profissional de foco, Brunna destaca um bom planejamento e networking, aproveitando os momentos de potência da gravidez para mostrar aos chefes que há interesse genuíno em seguir a carreira após a licença.
Mesmo assim, ela ressalta uma dica de ouro: “tenha a certeza de que você não é a mulher-maravilha, de que não vai dar conta de tudo 100% como planejado. Você vai dar o seu melhor, mas é impossível a gente fazer tudo perfeito e ao mesmo tempo. Ter essa consciência de que não seremos perfeitas, de que vamos errar e passar por momentos difíceis, é muito importante. Não podemos criar essa expectativa. A mãe profissional é diferente da que não era mãe. Ela tem uma nova demanda, mas também se torna uma profissional melhor”, conclui.