Você deve se lembrar que, quando Messi assinou contrato com o Paris Saint-Germain, o clube disse à imprensa francesa que o jogador receberia certa quantidade de "fan tokens" como agrado durante as boas-vindas. Antes do anúncio oficial do craque argentino, a criptomoeda do PSG chegou a ter seu preço valorizado após a repercussão dos fãs e torcedores, bem como o criptoativo do Barcelona que se despediu do seu camisa 10.

Com essa e outras ações do mercado, os tokens ganharam credibilidade e se tornaram um produto bem valorizado pelos mais poderosos clubes de futebol, como a Juventus que entrou em campo para disputar um amistoso contra a Atalanta durante a pré-temporada, estampou a publicidade do seu token $JUV nas mangas do uniforme.

A partir daí, diversos clubes começaram a se interessar pelo negócio, como os brasileiros Atlético-MG, Corinthians, Flamengo e São Paulo. Mas se você ainda não entende o que isso significa ou quais são os riscos envolvidos, o Oficina da Net preparou este artigo baseado na entrevista do Alexandre Dreyfus, CEO do Socios.com ouvido pela equipe do ge.

O que é o fan token?

De forma simples e clara, podemos dizer que o fan token é um tipo de criptoativo que se limita apenas a decisões que envolvem público e clube. Por exemplo, os torcedores que tiverem fan tokens a sua disposição, poderão participar de votações para decidir que músicas serão tocadas durante os intervalos dos jogos nos estádios. Quanto mais tokens o torcedor tiver, mais influência ele tem na decisão final. Esse é apenas um dos exemplos, mas com a popularização dos ativos, os clubes podem utilizar isso de diferentes formas.

Uma das grandes vantagens para o público é que os fan tokens podem ser passados para frente, sejam trocados ou revendidos, da mesma forma que acontecem com os ingressos. Assim, qualquer pessoa pode comprar um ativo de qualquer clube e depois revendê-los em sites próprios para isso, como o Mercado Bitcoin, já que possuem autenticidade garantida pelo sistema blockchain.

Para adquirir esses itens, o comprador precisa gastar dinheiro de verdade, sejam dólares, reais ou qualquer outra moeda válida. Porém, vale lembrar que essas operações não permitem que a compra seja feita a partir dessas moedas de forma direta. Antes disso, é necessário adquirir criptomoedas que sejam aceitas no mercado digital, como a Chiliz (CHZ) que pertence a própria plataforma Socios.com.

Criptomoeda ou não?

As criptomoedas são ativos digitais que podem ser utilizadas para realizar transações de forma direta, como comprar ou vender qualquer item, como o bitcoin por exemplo. Embora o fan token se enquadre como uma criptomoeda, vale lembrar que ele não pode ser utilizado desta forma, como para negociar a realizar transações de outras coisas à venda.

Como já dito, os fan tokens são utilizados exclusivamente para os torcedores participarem de votações que serão elaboradas na plataforma por clubes e parceiros. Desta forma, o fan token não é uma criptomoeda, no significado mais amplo da palavra. Apesar disso, eles se enquadram como tal, já que são alistados em mercados digitais dentro desta categoria.

Lucros para o clube

Assim que assinado o contrato, a plataforma coloca os tokens à venda para o público. A primeira leva é chamada FTO (fan token offering em inglês ou oferta de fan token na tradução direta). A quantidade de tokens podem variar de clube para clube, mas no Brasil, a média tem sido 850 mil unidades por vez. No caso do Atlético-MG e Corinthians, por exemplo, esse número foi vendido por dois dólares cada, o que rendeu um montante de US$ 1,7 milhão apenas em algumas horas depois da estreia.

A partir desse valor, a Socios.com concede ao clube 50% do valor total, o que neste caso chega a US$ 850 mil (algo em torno de R$ 5 milhões na conversão direta) para os cofres de cada um dos alvinegros. É claro que, assim como com qualquer outro ativo, o valor dos tokens podem variar. Por exemplo, a $SCCP, criptoativo do Corinthians, está avaliado em US$ 1,37 cada, conforme apurado pelo ge.

Assim, podemos concluir que o número de tokens é determinado pelas circunstâncias, já que a demanda pode aumentar de repente, como com a contratação de um jogador badalado, o que impactaria na procura do criptoativo. Desta forma, clube e parceira podem jogar mais tokens no mercado e aproveitar o hype para faturar ainda mais. Quanto às transações realizadas entre usuários, os clubes podem arrecadar cerca de 0,25% do valor, o que pode ser realmente interessante quando há muitas movimentações.

Bom negócio para investimentos?

Apesar de lucrativo em certas situações, a plataforma entende que os fan tokens não se enquadram como ativos para investimentos, já que para isso é necessário ter uma procura extremamente alta. Durante a entrevista ao ge, Alexandre Dreyfus, CEO da Socios.com, explica que a finalidade do produto é bem diferente de outras criptomoedas utilizadas realmente para gerar lucros.

“Não é nosso trabalho no Socios.com promover um investimento que vise lucro. Nós promovemos a utilidade do token. Há pessoas que estão comprando e vendendo tokens? Sim. Claro. Nós não promovemos, nós não encorajamos, mas há. Há pessoas comprando e vendendo tênis, mas o propósito de um tênis ainda é andar com ele. Assim como o fan token. O propósito do fan token é usá-lo, usar os benefícios dele.”

Na concepção da empresa, os tokens são produtos que podem ser revendidos, mas essa não é a finalidade primária. Para conseguir lucrar com isso, o usuário teria que adquirir o fan token em uma época em que o valor estivesse abaixo da média, e então revender quando a procura aumentar.

Quais os riscos?

Considerando que os fan tokens não são criptomoedas comuns do mercado digital, como bitcoin, ethereum, dogecoin e outras, o investimento neste tipo de ativo pode ser um tanto arriscado. Primeiro, por que eles podem simplesmente deixar de ter valor. Já que o único benefício de se ter um fan token é participar das votações que envolvem os clubes, cabe lembrar que enquanto não houver esse tipo de questões, a “moeda” fica sem valor.

Segundo, a parceria entre o clube e a Socios.com pode terminar, o que pode gerar prejuízos para quem ficar com os tokens retidos sem utilização. Conforme apurado pelo ge, nenhum dos contratos incluem a obrigação de recompra, caso os tokens percam a sua utilidade. O risco é total e exclusivamente do consumidor.

Dreyfus ainda explica que mesmo com o fim do contrato entre a Socios.com e os clubes, os fan tokens podem continuar apresentando algum valor, mas só poderão ser reaproveitados se novas empresas parceiras viabilizar esta operação. Isso vale tanto para os clubes europeus, como também para os brasileiros.

“O token ainda existe. A questão é quem vai oferecer o serviço para você, com dono de um token. Pode ser o Socios.com. Pode ser que o Corinthians, depois de cinco anos, queira assumir esse serviço no aplicativo deles. Ainda é um serviço, ainda tem valor. Eu e você podemos prever o que vai acontecer no mercado em cinco anos. Existe um risco? Claro. Mas acho que a questão principal pra nós é: o que faremos para ter certeza de que proveremos utilidade, serviços e melhorias aos fãs e aos clubes, para que isso nunca aconteça?”

A Socios.com não revela o prazo dos seus contratos, o que tem gerado dúvida sobre a garantia de valor ao adquirir um fan token de determinado público. De qualquer forma, o ge apurou que, no Brasil, a parceria está respeitando os seguintes prazos:

  • Atlético-MG: até fim de 2023
  • Corinthians: até fim de 2025
  • Flamengo: até fim de 2025
  • São Paulo: até fim de 2025

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