A origem da tradição de comer lentilha no Ano Novo

Conheça a simbologia por trás do ato de comer o grão milenar, considerado um dos alimentos mais antigos do mundo. 

O final de um ano e o começo de outro gera em nós muitas reflexões e promessas. É um momento em que muitos analisam a trajetória dos doze meses transcorridos para se programar para ações e projetos futuros. Junto dessas resoluções de ano novo, também nos lembramos, anualmente, das tradições que celebram e prometem paz, amor e prosperidade.

E se pular 7 ondinhas e se vestir todo de branco na virada do ano são tradições que podem variar de acordo com a região do país, o ato de comer lentilha cozida como a primeira refeição está presente em todas as partes do Brasil. Os mais supersticiosos acreditam que o consumo do grão traz dinheiro e prosperidade ao cumprir o ritual na passagem.

No dia a dia, apesar de não ser um alimento muito popular em nosso país, que prefere as muitas variedades de feijão no prato, a lentilha é sempre lembrada por aqueles que preparam a ceia de Ano Novo, seja para os amigos ou para a família.

Lentilha é fartura

Apesar de ser originária da Ásia  Central, a lentilha tem grandes cultivos em todos os continentes do mundo e  se espalhou no transcorrer da história da humanidade. A razão para que isso tenha acontecido é, inclusive, uma das teorias por trás da crença que associa a lentilha ao dinheiro.

Os grãos da planta são, como a maioria das leguminosas, trepadeiras que exigem poucos cuidados e se dão bem em diversos climas e temperaturas. São também bastante resistentes às secas.

Por essa razão, são muito populares entre comunidades nômades que relacionam a presença do alimento à fartura de comida.

No Brasil, contudo, a tradição de comer o alimento na ceia de Ano Novo chegou através dos imigrantes italianos, os primeiros a cultivar a planta por aqui. A crença trazida por eles se manteve como chegou nos anos 1880: aos que desejam ter sorte no ano vindouro, devem comer um prato quente de lentilha cozida logo após a meia-noite.

Na tradição italiana, no entanto, o formato dos grãos de lentilha está vinculado ao formato das moedas de metais preciosos — como ouro e prata, elemento essencial das grandes feiras de produtos do país, principal modalidade de mercado da época, que teve seu ápice algumas décadas da grande migração para o nosso país.

Tradição saudável

Mas mesmo quem não acredita nesse costume pode se beneficiar com o consumo regular da lentilha. O grão é bastante saudável e pode ser facilmente incorporado nas refeições do dia a dia. A maneira mais fácil de fazer isso é substituir o nosso habitual feijão pelo grão.

Assim como o feijão, a lentilha é da família das leguminosas e tem grande teor de proteínas, fibra alimentar e bons carboidratos. A nutricionista Helouse Carneiro destaca que ela é também uma boa opção para quem busca reduzir as calorias da refeição sem perder qualidade.

Além do Ano Novo

A verdade é que a lentilha é associada à riqueza material em diversas culturas para além das tradições de Ano Novo. O alimento é, inclusive, citado no Antigo Testamento da Bíblia cristã como um símbolo de sorte financeira.

Segundo o texto do livro, Esaú, filho de Isaac, um certo dia, chega faminto em casa e encontra seu irmão mais novo, Jacó, cozinhando lentilhas. Ao sentir o cheiro do alimento em preparo,  pede um prato a ele, que por sua vez, propõe uma troca.

Naquela época, o filho primogênito tinha diversos privilégios que os irmãos mais novos não possuíam. Jacó propôs a Esaú que ele abrisse mão desses privilégios em troca de um prato de lentilhas. Esaú, faminto, aceita a proposta do irmão.

Mais tarde, na história da família, Jacó se torna um homem rico e muito sortudo e, por essa razão, a lentilha também é vista como um alimento de sorte em outros contextos que não envolvem o Réveillon diretamente, mesmo antes de o calendário cristão ter sido adotado mundialmente.