Cientista da computação divulga conteúdos de sua área em linguagem acessível, visando maior inserção de mulheres negras no mercado da tecnologia.
O racismo é um problema estrutural em sociedades como o Brasil, estando presente em todas as esferas que organizam a população. Um exemplo disso ocorre no mercado da tecnologia. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os brancos são maioria absoluta nos setores de aeronáutica (88,4%) e engenharia de equipamentos de computação (92%).
Dados da plataforma PretaLab, que mapeia a inserção de mulheres pretas e indígenas na tecnologia, mostram que esse mercado não é apenas majoritariamente branco (58,3%), mas também masculino (68%), sendo a porcentagem de indígenas e pretos equivalente a 0,3% e 36,9% do total, respectivamente.
Nesse contexto, crescem iniciativas para promover a equidade
de raça e gênero na tecnologia. Uma delas é o podcast “Ogunhê” e o canal do
YouTube “Computação da hora”, criados por Nina da Hora, estudante de computação
da PUC-Rio, cujo trabalho se volta para reduzir essas desigualdades, promovendo
conteúdo para amantes de games e de tecnologia.
Primeiros passos
Ana Carolina da Hora, popularmente conhecida como Nina da Hora, tem 25 anos e mora no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Aos 12 anos, aprendeu a programar e criar joguinhos a partir de pesquisas em sites de busca e livros que conseguia com amigos de sua mãe que eram professores.
O interesse pela tecnologia mostrou-se já no início da adolescência. Aos 15 anos, ela trocou uma festa de aniversário por uma inscrição para um evento de tecnologia e entretenimento digital no Rio de Janeiro.
As palestras deste evento mostraram inúmeras formas de usar a
tecnologia, especialmente, para criar jogos e filmes. O gosto pelo tema foi
crescendo, o que a fez se voluntariar para trabalhar em exposições daquele
gênero. Além de ouvir um pouco a trajetória de profissionais da área, ali, ela
percebeu que queria trabalhar naquilo, e que isso era possível.
Reconhecimento
internacional
Em 2015, ela ganhou uma bolsa para estudar Ciência da Computação na PUC-Rio. Em 2016, coordenou o projeto Pyladies, grupo que reunia garotas para ensinar a linguagem Python para outras meninas, a fim de capacitá-las para se inserirem no mercado de trabalho.
Em 2017, ela viajou para o evento Campus Mobile, organizado pela Universidade de São Paulo (USP), que premia desenvolvedores de aplicativos para dispositivos móveis. Na competição, Nina conquistou o quinto lugar por ter criado um sistema de sinalização para auxiliar ciclistas. O bom desempenho resultou no convite dos organizadores para ela atuar como embaixadora na edição do ano seguinte.
Em 2018, ela foi uma das brasileiras convidadas pela Apple
para participar de uma conferência anual de desenvolvedores, realizada nos
Estados Unidos. O convite surgiu após Nina apresentar um projeto que foi bem
avaliado pela empresa, o que a levou até o Vale do Silício, na Costa Oeste do país.
Criações próprias
Além disso, durante a graduação, Nina desenvolveu o podcast “Ogunhê”, que resgata as contribuições de cientistas africanos. O termo é uma expressão de saudação ao orixá Ogum, deus da guerra da cultura afro-brasileira.
Outra criação foi o canal “Computação da Hora”, com vídeos em que ela ensina gratuitamente conceitos de computação, com linguagem simples, além de trazer materiais didáticos sobre o tema.
O principal objetivo do trabalho de Nina da Hora é divulgar conteúdos de robótica e tecnologia de forma gratuita e fácil, reivindicando a importância de mulheres e negros nessa área.
Em 2020, ela foi uma das palestrantes da oitava edição do Menos30 Fest, festival de empreendedorismo e inovação que oferece palestras, cursos gratuitos, debates e oficinas de educação empreendedora e tecnologia.
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