Reconhecer o protagonismo masculino com o cuidar físico e emocional dos filhos, na mesma importância atribuída às mulheres, são pilares essenciais para os homens exercerem integralmente a paternidade
A popularização de movimentos feministas, em diferentes regiões do mundo nos últimos anos, vem trazendo questões que envolvem diferentes esferas da vida social de mulheres e homens para o debate público.
Se a maternidade e a menstruação ainda são repletas de tabus e estão submetidas a pressões sociais, também existem expectativas sobre o que seria uma “boa paternidade” e os comportamentos que devem ser adotados pelos homens para serem considerados “bons pais”.
Nesse contexto, é importante para os pais refletirem sobre essas pressões, verem qual o sentido da sua paternidade e como conciliar as demandas dos filhos, da família, da profissão e da vida pessoal.
Paternidade não tem receita
Como qualquer outra relação — e especialmente em uma que reestrutura a vida e intensifica questionamentos sobre o modo como vivemos e enxergamos o mundo — a paternidade não tem fórmulas prontas.
Existem muitas formas possíveis de paternidade, sendo que a busca pela melhor delas é árdua e muito particular. A biografia de cada homem e as referências de vida que ele traz estão diretamente relacionadas ao que ele vai priorizar transmitir ao filho.
Paternidade responsável
Essa ideia se refere à escolha em exercer a paternidade integralmente e não só quando está de bom humor e com disposição para trocar fraldas, levar a criança para o posto de vacinação e acolher os sentimentos dela. Assim, o homem sai do papel do mero provedor, exercendo o cuidado físico e emocional, com um protagonismo que costuma ser exigido apenas das mães.
Exercer esse cuidar também envolve o processo do homem se reconhecer como responsável por compartilhar as tarefas domésticas. Desse modo, quebra-se a ideia de que existem algumas atividades que só as mulheres podem realizar. As únicas etapas que são exclusivas das mulheres são a gestação e a amamentação.
Licença-paternidade
A falta de políticas públicas e iniciativas nas empresas é uma barreira estruturante dessa falta de incentivo dos homens em exercer integralmente a paternidade. Se a licença-maternidade foi um direito conquistado por mulheres após décadas de batalhas civis e judiciais, a licença-paternidade também precisou ser reconhecida enquanto um direito.
Contudo, o usufruto desse direito ainda não é realidade para boa parte dos homens.
Um dos fatores é que a licença-paternidade não tem a mesma duração, reconhecida por lei, que a licença-maternidade: há a garantia de 5 dias para os pais, que podem ser estendidos até 20, dependendo da empresa, enquanto as mães têm direito a permanecer fora do trabalho por 120 dias.
Além dessa diferença jurídica, os homens enfrentam desafios como a maior pressão social para retornarem rápido ao trabalho e a estigmatização por decidirem dedicar mais tempo para cuidar dos filhos. Socialmente, ainda existe a visão de que o homem deve ter como única função o sustento da família, enquanto o cuidado dos filhos pode ser realizado mais esporadicamente.
Segundo uma pesquisa realizada pela empresa Talenses Group, feita em dezembro de 2019, revelou que apenas 1% das empresas garantem mais de 2 meses de licença-paternidade, enquanto 71% delas assegura 5 dias para seus funcionários. Para as mulheres, 63% das companhias garantem o tempo mínimo de 4 meses e apenas 29% cedem os 6 meses previstos por lei no Brasil.
Nesse contexto, um recurso comum utilizado pelos homens que acabaram de se tornar pais é emendar as férias que estavam para vender aos dias de licença-paternidade, reconhecidos pela empresa.
Benefícios
Exercer a paternidade integralmente, e só não como um hobby, tem impactos positivos para os homens, as mulheres e os filhos.
Conceber a casa como um espaço que demanda obrigações cotidianas, de limpeza, manutenção e organização, beneficia a convivência familiar como um todo ao não sobrecarregar as mulheres.
Ao se perceber como um protagonista fundamental no cuidado e na criação dos filhos, os homens têm a chance de se conectarem com suas emoções e necessidades — processo que é negado nos moldes tradicionais, que os veem como meros provedores. Essa etapa também os torna mais atentos para as emoções dos filhos.
Alguns estudos indicam que crianças cujos pais exerce a paternidade integralmente tem mais chances de desenvolver a autoestima e se sentirem mais confiante para compartilharem o cotidiano com eles. Além disso, conviver com um homem que reconheça o seu papel no cuidar dos afazeres domésticos e dos filhos serve como exemplo para os pequenos serem mais ativos dentro de casa.
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