Pesquisa mostrou diferenças na percepção de brasileiros de diferentes regiões, classes sociais, gênero e raça. Mulheres pobres nordestinas são as que mais temem a COVID-19
Ao acompanhar as últimas notícias sobre a COVID-10 pelo celular, brasileiros se sentem mais apreensivos sobre a atual crise sanitária, política e econômica que abate o país. No dia 4 de junho, o Brasil alcançou a triste marca de terceiro país do mundo com o maior número de mortos pela COVID-19, atrás apenas do Reino Unido e dos Estados Unidos.
No 100º dia da pandemia no país, foram oficialmente registrados 1.473 óbitos, o que faz a atual doença matar mais de um brasileiro por minuto — recorde, até então, registrado em território nacional. Até essa data, o país registrava 34.021 mortes e 614.941 mil casos confirmados, dos quais 325.957 mil ainda estão sob acompanhamento médico.
Se a pior pandemia do último século já foi chamada de “gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro, até o dia 5 de junho a doença provocada pelo novo coronavírus já havia contaminado mais de 6,4 milhões de pessoas e matado mais de 382 mil em todo o planeta.
Desde o primeiro registro oficial de contaminação por COVID-19 no país, diferentes pesquisas verificam como está a percepção de brasileiros sobre a atual pandemia e quais são os impactos sobre a saúde pública, a economia e a política institucional.
Pesquisa Datafolha
Um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha, no dia 2 de junho, mostra que o medo de ser infectado cresceu entre os brasileiros, agora, em comparação ao início da pandemia no país. Na pesquisa, 45% dos entrevistados disseram sentir “muito medo” — proporção que era de 38% em abril e 36% em março.
Em contrapartida, nas demais perguntas feitas pelo Instituto, os índices diminuíram. Os que declararam ter “um pouco de medo” são 34% — menos do que os 39% registrados em abril e 38% em março. A parcela dos que declararam não ter medo da doença foi de 21% — índice que era de 23% em abril e 26% em março.
Foram registradas diferenças na percepção de homens e mulheres, além de ricos e pobres, sobre a doença. Enquanto 38% dos homens afirmaram ter muito medo de serem contaminados, essa proporção sobe para 51% das mulheres. Entre os mais pobres, 50% tem medo de contrair a doença, índice que cai para 31% entre os mais ricos.
As diferenças regionais também foram notadas nessa pesquisa. Enquanto 51% dos moradores do Nordeste apresentaram maior medo de ter COVID-19, a proporção de habitantes da região Sul com o mesmo temor foi de 31%.
Foram realizadas 2.069 entrevistas nos dias 25 e 26 de junho, por telefone, com brasileiros com idade mínima de 16 anos e portadores de aparelhos celulares, de todas as regiões do país.
Disseminação da doença
A pesquisa também investigou a percepção dos entrevistados sobre a disseminação da pandemia: 77% dos mais ricos, 69% dos mais escolarizados e 64% dos moradores de regiões metropolitanas se infectaram ou conhecem alguém que contraiu a doença.
Os menos contaminados se concentram entre os menos escolarizados (59%) e moradores da região Sul (66%). O Instituto Datafolha não realizou testes nas pessoas entrevistadas, somente perguntou se eles haviam sido infectados ou não pela doença.
O cruzamento entre as respostas dos diferentes segmentos socioeconômicos conclui que as mulheres pobres nordestinas constituem a parcela da população que mais teme a COVID-19.
Sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento da doença, a opinião de 89% dos entrevistados é de que esta questão deve ser científica e não política. Esse índice é majoritário entre todas as regiões e os segmentos sociais.