A soberania tecnológica, o desafio de encarar a morte, a fragilidade das fronteiras nacionais e a necessidade de opinar sobre tudo são alguns questionamentos trazidos pelo novo coronavírus
Até o dia 18 de junho, a atual pandemia provocada pelo novo coronavírus já havia contaminado mais de 8 milhões de pessoas e provocado mais de 440 mil óbitos em todo o mundo.
Os impactos da pior pandemia registrada no último século ainda são inestimáveis. Contudo, já se notam os primeiros efeitos, tais como o aumento repentino de mortes em escala global, a alta do desemprego e o fechamento temporário de diferentes estabelecimentos comerciais.
Nesse contexto, pode ser difícil conseguir manter a saúde mental mediante o aumento do estresse, do medo e das angústias referentes ao presente temeroso e ao futuro cada vez mais incerto.
Se você é daqueles que vêm enfrentando dificuldades para pegar no sono, mesmo com uma cama confortável, pois, antes de dormir, relembra os números da COVID-19 e fica imaginando as possíveis mudanças que permanecerão mesmo após a criação da vacina, confira outras reflexões que o novo coronavírus trouxe para a humanidade.
Soberania tecnológica
Se o mundo anterior à pandemia já era dominado pela virtualidade das telas de celulares e computadores, no confinamento social, esse cenário foi ainda mais intensificado. Sem que a população possa sair às ruas livremente, nem reencontrar amigos pessoalmente, as redes sociais e as videochamadas assumiram um protagonismo indiscutível durante a quarentena vista em diferentes regiões do planeta.
Por um lado, esse mecanismo permitiu às pessoas conversarem e nutrirem vínculos mesmo com a distância física. Contudo, por outro, esses espaços digitais são produzidos pela iniciativa privada, com normas de participação definidas por grandes corporações.
Esse processo implica uma privatização da cidadania digital e levanta questões fundamentais, como a garantia do respeito à privacidade dos dados dos internautas — o que já era discutido em diferentes países antes da pandemia.
Outra problemática se refere à necessidade de assegurar acesso aos recursos tecnológicos a todos. Aulas transmitidas virtualmente por escolas e universidades se tornaram uma realidade generalizada em poucas semanas. Isto trouxe à tona a desigualdade dessa conexão como obstáculo fundamental para o contato dos cidadãos à educação.
Cosmopolitismo
Diferentemente de outras doenças, como a gripe suína e a MERS, que ficaram mais restritas à China e a alguns países da Península Arábica, a COVID-19 afetou todo o planeta. Mesmo os países com um número baixo de casos registrados precisaram adotar medidas de precaução, desde confinamento social até fechamento de fronteiras.
Se a “globalização” era uma das grandes promessas do início do século XXI, o novo coronavírus mostrou as fragilidades das fronteiras e dos Estado-nação, além de evidenciar que problemas globais exigem, de fato, soluções globais.
A pandemia também destacou como a humanidade é interdependente, mesmo com todas as diferenças culturais. A COVID-19 é uma boa oportunidade para relembrar os ensinamentos do filósofo estoico Herácles, que disse que precisamos tratar qualquer ser humano como nosso compatriota.
Emissão constante de opiniões
A popularização da internet propiciou uma maior democratização do acesso à informação e da possibilidade de compartilhar nossas opiniões. Contudo, esse processo também provocou a sensação de que todos podem ser especialistas em diferentes temas, de modo a emitir opiniões em redes sociais assim que um acontecimento ocupa as manchetes dos noticiários.
Em um contexto de pandemia, quais os impactos de tuítes e posts de leigos, com críticas acerca de medidas como o confinamento social e o uso de máscaras, sobre o comportamento de outras pessoas? Até que ponto essa conduta não consiste em uma simples liberdade de expressão, mas contribui para a desinformação mediante uma doença altamente contagiosa e ainda sem vacina?
Pensamentos sobre a morte
Mais do que o sexo, a morte consiste em um dos grandes tabus da sociedade ocidental hoje. Se é verdade que todos vão morrer, poucos são aqueles que ousam pensar sobre a morte ou a vida com seriedade e respeito.
A pandemia nos convida a perceber como vida e morte não são antagônicas, mas processos complementares. O medo da morte, muitas vezes, é intensificado quando se vive uma vida de modo automático, sem realizar os sonhos e viver segundo os próprios valores.
Se a morte nos traz medo do desconhecido e do fim da relação com as pessoas que amamos no molde como a vivemos, ela também nos convida a avaliar como está a nossa vida e a preenchermos, com sentido genuíno, o que realmente nos dê a sensação de que vale a pena estar aqui.
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