Alguns podem preferir ouvir de olhos fechados, como aquele meu amigo cego, que eu cito nestes versos. Cito também meu pai, e vale comentar que gravei e publiquei isto logo após saber que ele tinha sido entubado no CTI mais uma vez, depois de mais de 100 dias internado com Enfizema Pulmonar e outras complicações. Ele já passou 2019 entre internações e home-care, praticamente sem forças faz um bom tempo, ultimamente nem para se alimentar.

O poema ficou pronto uns dez dias antes, inspirado nele em em outras tantas coisas da vida, mas neste domingo de Páscoa resolvi compartilhá-lho por um motivo bem particular.


Curiosamente sonhei nesta madrugada com meu pai no hospital perguntando se iria ficar deitado para sempre e dizendo com sua boa voz rebelde que já não queria mais isso de viver deitado, que queria levantar dali. No sonho ele arrastou-se pra beira da cama, caindo sentado no chão e transformando-se em uma criança bem pequena, de fraldas, e caminhou confiante. 

Eu e a enfermeira elogiávamos. "Tá vendo, pai? Você não vai ficar só deitado. Está até andando!"

Então ele já era um menino um pouco maior e corria feliz com uma bola dentro do quarto do hospital com uma camisa prateada de jogador de futebol com o número 10 e seu nome Miguel nas costas. Driblava. Sorria.
Em seguida alguns parentes já estavam no quarto, incluindo um avô que já faleceu, e eu estava emocionando querendo contar o que tinha visto, e meu pai já estava na cama outra vez.

Quando acordei, imaginei mesmo que aquilo podia ter sido mais do que um sonho, mas algum tipo de sinal, e a primeira coisa que vi no whatsapp foi a notícia de que ele tinha sido intubado às pressas na mesma noite e quase tinha falecido.

Lembrei do poema da morte ao conversar com a família e fui revisá-lo parar poder mostrar pra eles. E resolvi publicar em forma de video também para vocês.

Vou trazer mais poesia declamada aqui pro canal. Ative o sino de notificações pois não vai ter dia e hora certos. Carregue o video e coloque seu celular em modo avião para não interromperem a vibe, pois esse poema é bem extenso, mas tenho outros mais curtos já prontos pra gravar e publicar aqui. Também posso declamar e comentar letras de músicas minhas já gravadas e falar de outras formas sobre POESIA. 

Tinta que sai da medula.
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