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Os estragos causados pelas chuvas em São Paulo não são de hoje, entenda porque a cidade é tão prejudicada pelas enchentes.

A cidade de São Paulo é, frequentemente, atingida por enchentes em períodos de grandes volumes de chuvas. Há diversos pontos de alagamentos, espalhados por toda a região, e as avenidas e ruas tendem a ficar intransitáveis, com motoristas e passageiros ilhados em meios de transporte.

No entanto, o questionamento que essa recorrente situação traz é: as chuvas intensas são as reais culpadas pelas enchentes ou, na verdade, é a cidade que não possui estrutura suficiente para suportá-las? Em entrevista à BBC News, urbanistas falaram sobre essa questão.

Há erros de planejamento?

De acordo com Anderson Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), as grandes cidades do Brasil não foram arquitetadas para “respeitar os ciclos hidrológicos da natureza”: primeiro, a evaporação das águas e, depois, as precipitações que afetam os municípios.

Anderson explica que o correto seria a água ser absorvida pelo solo e, depois, ser escoada para rios e córregos, que a levariam para o mar. Dessa forma, o ciclo seria reiniciado.

Porém, o que acontece é que, quando a água da chuva cai no solo urbano, ele é impermeável e não consegue absorvê-la. “Nossos canais e rios estão canalizados. Essas águas, em grande quantidade e velocidade, escorrem para as sarjetas e galerias, que não conseguem suportá-las”, diz Anderson.

Ainda há o fato de municípios, como o de São Paulo, terem tido um crescimento desalinhado, com instalações instáveis, construídas em várzeas de córregos e rios pequenos e, também, em encostas, o que desequilibra ainda mais o curso comum das águas que correm para grandes rios, como o Tietê.

O urbanista explica que a expansão da periferia impermeabilizou o terreno das áreas verdes e que a melhor opção seria a criação de processos de macrodrenagem, que pudessem intervir nessa lógica, com a inauguração de parques lineares e praças ao lado de rios e córregos pequenos, pois, dessa maneira, a água se infiltraria no solo de uma maneira mais fácil.

Os espaços grandes para o represamento das águas da chuva, os populares “piscinões”, são, frequentemente, mencionados como exemplos de obras públicas com potencial de reduzir as enchentes. 

Porém, contraditoriamente, a cidade de São Paulo tem cerca de 32 deles. Para o professor, esses piscinões, hoje em dia, são, na verdade, uma parte do problema e não a solução, como se acredita.

“Não adianta construir uma área de cimento, cercá-la com grades e esperar que a água vá parar ali. Hoje, os piscinões acumulam lixo, têm manutenção reduzida e acabam transbordando”, afirma.

Possíveis soluções

Anderson ainda cita possíveis soluções, ao seu ver, para reduzir os impactos das chuvas. Para ele, medidas de microdrenagem, como a recuperação de galerias, sarjetas e bocas de lobo e, ainda, o desassoreamento de córregos e rios e a arborização são as melhores opções.

Já Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, e arquiteta urbanista, diz que os pontos principais devem ser a contenção da expansão imobiliária que não considera o lençol freático e as várzeas do município.

“Hoje, construímos grandes edifícios com subsolos de até cinco pavimentos sem levar em conta a geologia onde está localizado. O crescimento ignora tudo isso e trata a cidade como se fosse um tabuleiro de terra plano e uniforme”, explica Lucila.

De acordo com a percepção da arquiteta e urbanista, o município necessita impedir construções em áreas de risco e formular projetos de desimpermeabilização para tornar a drenagem da água mais simples.
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